Hoje era o dia do teu aniversário.
Fazias 96 anos!
A minha avó Ofélia era uma mulher cheia de força. Criou os seus filhos e os do seu marido (frutos do primeiro casamento) da melhor forma que soube. Ela foi o homem e a mulher da casa depois do meu avô ter tido um acidente com o carro de bois e ter perdido uma perna, foi ela que meteu o pão na mesa. Vendia fruta e legumes na praça de Peniche e muitas pessoas conheciam-na por tia Maria das Galinhas… alguns dos filhos tratavam-na carinhosamente dessa maneira também. A verdade é que ela adorava andar de volta das Galinhas a dar-lhes comer e água e a recolher os ovos que elas punham. Criava-as desde o ovo, ou comprava já os pintos com alguns dias, a finalidade delas depois de bem gordinhas era sempre a panela.
Eu sempre me deliciei com as idas à casa dela e com a possibilidade de andar no meio dos bichos. Ela tinha tanto cuidado com os seus pintos que eles até tinham uma lâmpada que os aquecia de noite. Trabalho não lhe faltava.
Ela era MESTRE na arte de fazer renda de bilros e será sempre assim como está na foto que eu me recordei dela. Sentada no sofá em frente à TV a fazer renda com a sua gata sentada no colo e apanhar o solinho da rua através do vidro da porta. Era sempre aqui que a encontrávamos quando lá chegávamos para a visitar. Na verdade cada vez que lá vou e passo pela porta da casa dela olho para o vidro com a esperança de ver novamente a sua figura sentada ainda a fazer renda, mas não, a almofada está lá no mesmo sítio mas o barulho dos bilros a bater uns nos outros já só eu é que ouço na minha cabeça.
Avó velhinha, com a Madalena lhe chamava, agora que és uma estrela no céu olha por nós.
Bem sei que muitas vezes deves estar a rir-te de nós e pensar como dizias muitas vezes: “olha eu tenho um ouvido para ouvir e outro para deixar ir”.
Talvez seja esse o segredo da longevidade.